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A feia - Mario Persona

A feia - Mario Persona (mp3)
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https://youtu.be/Xret3VPGL68

A feia

Mario Persona

No livro de Gênesis 29:15-35 lemos: “Depois disse Labão a Jacó: Porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? Declara-me qual será o teu salário. E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia (ou Lia) e o nome da menor Raquel. Lia tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista. E Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por Raquel, tua filha menor. Então disse Labão: Melhor é que eu a dê a ti, do que eu a dê a outro homem; fica comigo. Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava. E disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me case com ela. Então reuniu Labão a todos os homens daquele lugar, e fez um banquete. E aconteceu, à tarde, que tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu. E Labão deu sua serva Zilpa a Lia, sua filha, por serva. E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste? E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita. Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo servires. E Jacó fez assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha. E Labão deu sua serva Bila por serva a Raquel, sua filha. E possuiu também a Raquel, e amou também a Raquel mais do que a Lia e serviu com ele ainda outros sete anos. Vendo, pois, o Senhor que Lia era desprezada, abriu a sua madre; porém Raquel era estéril. E concebeu Lia, e deu à luz um filho, e chamou-o Ruben; pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição, por isso agora me amará o meu marido. E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada, e deu-me também este. E chamou-o Simeão. E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Agora esta vez se unirá meu marido a mim, porque três filhos lhe tenho dado. Por isso chamou-o Levi. E concebeu outra vez e deu à luz um filho, dizendo: Esta vez louvarei ao Senhor. Por isso chamou-o Judá; e cessou de dar à luz”.

A história de Jacó é muito interessante, porque o caráter dele é do brasileiro típico, aquele malandro, que gosta de estratagemas, gosta de enganar as pessoas, de levar vantagem em tudo. Quando vemos Jacó, notamos que ele é assim; uma pessoa esperta, que queria sempre levar vantagem. Em várias ocasiões ele demonstra esse caráter, que é, basicamente, o de todo ser humano. Somos Jacós, nascemos Jacós, temos o instinto muito grande de auto preservação, de sobrevivência, de querer furar a fila, ir na frente, querer dar um jeitinho para que as coisas pendam para o nosso lado. Assim era Jacó, assim somos nós. Somos assim porque somos pecadores, nascemos de uma linhagem de pecadores, desde que Adão e Eva caíram em pecado, quando desobedeceram a Deus no Jardim do Éden. Toda pessoa que nasce, tem em si o pecado, como se fosse uma distorção no seu DNA, e porque temos esse pecado em nós, pecamos. Ou seja, nós damos frutos que estão de acordo com essa natureza pecaminosa que herdamos de Adão e Eva.



Mas a história de Jacó é mesmo interessante. Deus o chama numa passagem da Bíblia, de “o vermezinho de Jacó”. Ele é um homem reles, e não é, definitivamente, um herói, mas na verdade, um homem de subterfúgios, que deu um golpe no seu próprio irmão Esaú. Quando voltamos um pouco em sua história, descobrimos que Esaú, sendo o filho mais velho, tinha o direito à primogenitura. Isaque, o pai, que já estava velho, e praticamente cego, ia abençoar Esaú, como podemos vemos no capítulo 26 deste mesmo livro. Com a ajuda de sua mãe, Jacó corre na frente, prepara um guisado do jeito que o pai gostava, reveste seus próprios braços com pele de cabra, porque Esaú era peludo, e o pai, que estava cego, iria querer tatear aquele que estava trazendo o guisado, a fim de dar a benção da primogenitura que pertencia ao primeiro filho, ou seja, ele receberia os direitos principais, os direitos da família. Jacó vai até seu pai e lhe serve o guisado que o pai pedira, fingindo-se ser Esaú, enquanto este sai para caçar. Isaque pergunta, quando Jacó chega: “Quem é você?”. - “Eu sou Esaú”, mente Jacó. - “Chegue mais perto quero ver, quero sentir você” pede o pai, que já não enxergava mais, passa as mãos nos braços de Jacó, que estão cobertos com uma pele, e fala que é seu filho Esaú, já que seus braços são como pele de animais. Ele engana seu pai, e quando sai, chega Esaú, que fica muito bravo porque a primogenitura tinha sido dada a Jacó. Daí para frente há um rompimento na amizade deles e isso dura até hoje. Os povos descendentes de Jacó, que são os israelitas, e os povos descendentes de Esaú, são inimigos, estão sempre em atrito.

Mas agora, chega a vez deste homem cheio de subterfúgios, tão esperto e ladino, ser enganado. O enganador é enganado. Quando ele vai trabalhar para um parente, apaixona-se por uma de suas filhas, sua prima, Raquel. Esta devia ser uma mulher muito bonita, pelo jeito que fala no versículo 16: “Labão tinha duas filhas, o nome da mais velha era Lia”- ou Lia, em algumas traduções -”o nome da menor, Raquel. Lia, porém tinha olhos tenros”. Há muita discussão sobre o que seriam esses olhos tenros. Se ela era vesga, se tinha olhos embaçados, se era meio esquisita na aparência, enfim, sabe-se, porém que Raquel era bela, pois o texto faz uma comparação entre ambas - Lia, porém, tinha olhos tenros, “mas” Raquel era de formoso semblante”, ou seja, tinha o rosto formoso e era formosa à vista. Inteiramente bonita.
O que na verdade está sendo dito aqui, é que Lia era feia e Raquel linda. E, obviamente, ele se apaixonou pela última. E essa paixão é tão grande que ele faz qualquer coisa para ficar com ela, como propor casar-se com Raquel, no versículo 20, e servir sete anos por ela! Sete anos era muito tempo para você adquirir uma esposa. Alguém pode pensar que aquele era um povo muito atrasado, mas esse era o costume da época. Uma esposa era adquirida com um dote dado pelo marido e até hoje, em muitos países do mundo é assim. Em alguns países da África, por exemplo, o noivo tem que dar uma série de presentes; gado, roupas, joias, para poder ter o direito de se casar com a noiva. E aqui, ele dá um pagamento que era fora do comum, sete anos trabalhando! Imagine trabalhar sete anos de graça, para conseguir ter direito de se casar com a esposa, esta era uma esposa muito cara! Mas para ele, sete anos eram como um dia, não tinha importância.

Vemos depois, na continuação da história, que Jacó faz outras coisas, como inclusive, enganar novamente seu irmão. Mas vamos pensar um pouco, por que Jacó fazia tudo isso? Apelar para roubar a primogenitura do seu irmão, depois se casar com essa mulher que era lindíssima, contrariamente aos costumes da terra, onde a primogênita, que era Lia, deveria ser dada em primeiro lugar. Por que ele faz tudo isso? Ora, porque Jacó, à nossa semelhança, também vivia insatisfeito. Ele não estava contente, era uma pessoa vazia, como nós somos. A nossa natureza é assim, sempre vamos querer mais! Nunca estaremos satisfeitos, sendo o segundo filho. - Quero ser o primeiro! Nunca estaremos satisfeitos em sermos o segundo lugar na escola, - Queremos ser o primeiro! Sempre queremos nos casar com a mulher mais bonita, queremos ter o carro mais bonito, ter o melhor emprego, a casa mais bonita, os filhos mais inteligentes. Em tudo quero ser o primeiro! Porque existe uma insatisfação no coração humano. Nunca estamos satisfeitos, jamais! Desde que o homem caiu em pecado, e ficou separado de Deus, ele tenta preencher esse vazio que a ausência de Deus deixou; ele tenta preencher com alguma coisa para ver se assim será feliz. O homem quer ser feliz!

Quando Satanás tentou o Senhor Jesus, - quando o Senhor Jesus veio ao mundo - Satanás o tratou como um homem comum, como se fosse um homem pecador, oferecendo a Ele benefícios materiais, oferecendo toda a honra, toda a glória do mundo, todos os tesouros; oferecendo a Ele coisas que, qualquer homem mortal e normal, que não fosse o Filho de Deus, teria caído na conversa. Porque nós acharíamos que aquelas coisas realmente iriam nos satisfazer. Jacó pensa assim, por isso ele escolhe a mais bonita. Mas o direito à primogenitura, ou à benção de Isaque, não era suficiente para ele? Não. Na hora pode ter sido, como quando nós ganhamos um brinquedo novo. Uau! Meu brinquedo novo! Depois fica lá, jogado num canto, nos esquecemos dele. Naquela hora, a primogenitura foi importantíssima para Jacó. Mas agora, o que falta na vida dele?

“Se eu tão somente tiver a mulher mais linda do mundo para poder me casar com ela, aí eu vou ser feliz”, esta é a cabeça de Jacó; e essa é a cabeça de todo ser humano. Todas as pessoas acham que se conseguirem um relacionamento com alguém que seja aquela pessoa especial, aí sim, será feliz. Basta ver o tanto de romances, novelas, filmes, que são baseados em quê? Na ideia de que se a pessoa encontrar alguém, o par perfeito, aí sim, a felicidade será completa.

Então ele quer Raquel, quer a mulher mais bonita. Parece que a sociedade não mudou nada. Porque hoje também, a beleza feminina é exaltada em todo lugar. As mulheres mais bonitas conseguem, às vezes, até os melhores empregos, elas são mais admiradas, ganham mais, elas sempre têm maiores oportunidades porque são as mais bonitas. E fica evidente isso quando você vai a uma empresa, e vê realmente isso acontecer. As chances são dadas também em função da aparência, não só por mérito. Temos concursos de beleza, temos uma série de coisas voltadas para a mulher bonita. Por isso Jacó precisa tanto, ele não pode viver, sem Raquel; e vai conseguir trabalhando sete anos com afinco, fazendo uma negociação com Labão. No versículo 18: “E Jacó amava Raquel e disse: sete anos te servirei por Raquel, tua filha menor”. E Labão responde o que para ele? Ah, tudo bem, está certo, negócio fechado? Não! Labão era mais esperto que Jacó; “então disse Labão, é melhor é que eu ta dê que dê a outro varão, fica comigo”. Note que a resposta é vaga. Ele realmente vai dar Raquel, mas não do jeito que Jacó está esperando. “E assim serviu Jacó”, no versículo 20, “sete anos por Raquel, e foram a seus olhos como poucos dias, pelo muito que a amava”. Quando a pessoa ama muito, fica cega, não é?

É o que está acontecendo com Jacó, ele está tão apaixonado por Raquel que ficou bobo e vai trabalhar sete anos de graça para ficar com ela. E não só isso, ele não vai enxergar o que está acontecendo, fica completamente cego, como vemos na noite de núpcias. Versículo 21: “E disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu entre a ela”. Essa expressão: “entre a ela” algumas traduções falam: “me case com ela”. Mas o sentido do hebraico é literal, ele está, falando da relação sexual, Jacó quer dormir com Raquel. E, obviamente, haverá o casamento, segundo os costumes da época. No versículo 22, “então ajuntou Labão a todos os varões daquele lugar, e fez um banquete”. Isso deve ser algo como a despedida de solteiro, porque ele reúne os varões do lugar, e claro que esse banquete deve ter tido muito vinho, muita alegria, muita cantoria. O nosso amigo Jacó, vai para sua tenda, mas, aconteceu que à tarde, Labão tomou Lia, sua filha mais velha, e trouxe-lha e entregou para Jacó.
Precisamos sempre lembrar que Jacó já devia estar bem alto, porque teve um banquete regado a vinho, como ocorre em todas as épocas, e Jacó devia estar embriagado, não havia luz elétrica, lembre-se disso, estamos falando aqui de um tempo que não existia eletricidade ainda, ou seja, eles estão numa tenda escura, e provavelmente, a mulher na noite de núpcias, vinha paramentada, com véus e toda coberta, e acaba então que Jacó dorme com Lia.

Existe uma lenda judaica que fala que depois que Jacó cobrou Lea sobre o que houve à noite, - Quando eu perguntei quem era e você respondeu, Raquel. - Segundo tal lenda, Lia teria respondido a ele: - Isaque também perguntou quem era você e você disse que era Esaú. Ou seja, a mesma coisa que você fez com seu pai, eu fiz com você, ou o meu pai fez com você, os dois enganaram e os dois foram enganados.
Jacó acorda e agora está casado com Lia! Que surpresa ele teve, quanto decepção, sete anos trabalhou para aquilo! Eu estava lendo um estudo sobre esta passagem neste versículo, que falam que esta palavra, “por que me fizeste isso?” seria a mesma frase em hebraico, pelo que alguém comentou, que Deus fala para Eva em Gênesis no capítulo 3, “Eva, por que você fez isso?” Ou seja, é uma expressão de decepção. Antes até mesmo de Lia decepcionar Jacó, Eva já havia decepcionado a Deus.

Podemos imaginar quando Deus criou o homem, que, obviamente, Deus sabe todas as coisas, mas que afronta, que triste para Deus foi Ele ter dado tudo para o ser humano, não ter deixado nada lhe faltar, e ainda assim, este não estar contente com Deus, e desobedecer a única ordem que Ele tinha dado! Havia uma árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim do Éden, e Deus falou: “Vocês podem comer de tudo, de todos os frutos de todas as árvores, mas não comam do fruto desta árvore. Aí a serpente vem e engana Eva, e Eva come do fruto daquela árvore, justo daquela que Deus falou para não comer, e dá ao seu marido Adão, que também come. Esse foi o pecado original, a queda do homem, aconteceu ali no Éden, e Deus responde a isso com uma decepção: “Eva, o que você fez”?” “A serpente! Ela me enganou e eu comi”. “Adão, o que você fez?”, “a mulher que o Senhor me deu, foi quem me deu para comer”. Começando o jogo de empurra, e é assim até hoje.

Então, temos agora, Jacó acordando de sua ressaca e olhando para Lia. E fala, que você fez comigo? Você não é aquela! E ele vai reclamar para Labão, no versículo 25 “E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste? E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita. Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo servires”. E Jacó fez assim, cumpriu a semana. Talvez fosse este o costume do casamento, ele ficava com Lia, o que seriam as núpcias e depois, receberia Raquel, mas como uma nota promissória, de trabalhar mais sete anos para merecê-la. E assim ele trabalhou, quatorze anos na verdade, para receber Raquel. Foi o dobro do preço que ele havia combinado no início e junto a isso, a decepção com Lea.

Nós sempre queremos ter o melhor, sempre queremos aquele carro. - Quando eu tiver aquele carro aí sim vou ser feliz. Quando eu fizer faculdade e pegar meu diploma, ou antes, quem não se lembra disso? Quando eu pegar minha carteira de motorista, aí minha vida vai mudar. Aí vou ser feliz!

Depois você tem que levar os filhos na escola e você empurra para sua esposa, ou esposo: - Vai você, não aguento mais dirigir. - Ah, quando eu tirar meu diploma, aí vou ser feliz! Você tira o diploma, cai no mercado e não acha um emprego. Você começa a pensar que quando arrumar um emprego, aí será feliz! Então você arruma um emprego, um mês depois você não aguenta mais seu chefe, seus colegas. “Mas quando eu fizer uma pós-graduação, e arrumar num emprego melhor, eu vou ser feliz!”. Você faz a pós, e vai ser sempre assim! “Quando eu me casar com aquela mulher lindíssima, aí sim!” Então você se casa com a lindíssima e tudo continuar do mesmo jeito. Não se engane! Independente de ser carro, casa, faculdade, emprego, você vai sempre dormir com a Raquel e acordar com a Lea, não vai ter jeito! O dia seguinte vai ser sempre uma decepção, nós nunca estaremos satisfeitos com as coisas que temos nesse mundo, porque elas não preenchem o vazio que Deus deixou com a separação, quando o homem caiu em pecado. Mas Deus, felizmente, reparou esse dano! Ele provou o homem ao longo dos tempos de diversas formas para deixar muito claro que não haveria chance do homem encontrar o caminho de volta para o Éden, como se fosse encontrar o caminho do Shangri-la.

Isso ficou muito claro, para começar, quando o homem pecou e caiu. Deus colocou um anjo na porta na entrada do jardim com uma espada flamejante que revirava, para impedir que o homem entrasse de volta ao jardim do Éden, porque ele poderia comer de uma outra árvore, a árvore da vida, e assim não morreria mais, continuaria no estado degradado do pecado, porém, imortal. O que seria muito pior que o estado atual do homem. Seria um homem pecador, em estado completamente arruinado e pedindo a morte e morte não viria. Por isso, Deus, por misericórdia, guardou o homem disso e foi provando-o ao longo da história, até que decidiu entregar seu próprio Filho para pagar o pecado do homem. Para criar esse caminho de volta, só que não era exatamente de volta. O que Deus fez foi algo muito melhor, muito maior até do que a primeira criação. Quando Cristo veio ao mundo, não foi para dar exemplo de bondade – era um homem perfeito! - nem como um mártir, ou como um guru, ou como um grande sábio, que viesse nos ensinar como podemos ficar melhor, como aprimorar nossa maneira de ser para merecer então o céu, merecer o favor de Deus. Não! Ele veio como vítima! Veio para morrer, porque o pecado do homem exigia uma paga, um sacrifício, exigia a morte e a condenação do pecador, o juízo eterno. Deus então entrega Seu Filho, Seu único Filho, para sofrer esse juízo na cruz.

A morte de Cristo na cruz não foi acidental. Não foram os planos que deram errado, como aconteceu com os inconfidentes, em Minas Gerais, quando Tiradentes acabou preso, enforcado e esquartejado, e tendo seus pedaços expostos na via pública. Não foi isso que aconteceu com Cristo! Tudo estava pré-determinado, ele sabia o que iam fazer com ele, e foi até o fim. Ele poderia se libertar, mas não queria, porque ia cumprir a obra que Deus lhe entregou: morrer no lugar do pecador, substituir este no juízo. Isso é o evangelho! Cristo veio, morreu, por nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia para a nossa justificação, é a obra completa de Deus para a nossa salvação.

E a coisa mais bela dessa passagem que estamos lendo é perceber Jacó entendendo realmente quem era ele, e quem era Deus, no capítulo adiante, quando ele luta com o Senhor no capítulo 32, e Jacó tem o nervo da sua perna tocada. Aquele que era muito rápido para correr aqui e ali, enganar um, enganar outro, para resolver suas coisas, Deus, deixa-o manco, deficiente, inválido. Deus precisou quebrar, literalmente, Jacó. Uma vez li um livro que dizia que os pastores antigamente, quando tinham uma ovelha muito teimosa, que vivia fugindo, quebravam uma perna dela, porque assim ela não tinha como ir longe, ficaria mancando o resto da vida. Mas na verdade, isso era uma misericórdia do pastor, que a mantinha viva, apesar de defeituosa, uma vez que assim, ela não iria para longe, correndo o risco de ser presa fácil aos lobos.

Deus vai quebrar a vontade de Jacó, vai mexer com ele. Jacó só iria conhecer quem realmente ele era, e quem era Deus, no capitulo 32. Mas aqui, é Lea quem vai conhecer quem ela é e quem é Deus. Ela vai aprender a lição que nós aprendemos quando conhecemos a Cristo, porque Cristo é o único que satisfaz o nosso coração. Quando uma pessoa vai a Cristo e crê nele como salvador, e recebe dele o perdão de seus pecados, e a vida eterna, o Espírito Santo vem habitar nessa pessoa. Por mais que às vezes ela ainda pense em ficar rica, ou conseguir aquela namorada, ou aquele carro, então será feliz, por mais que essa pessoa pense nisso, ela sabe que isso não vai trazer felicidade, sabe que a única felicidade constante, permanente, eterna, é Cristo. Só encontra em Cristo a satisfação. Existe um hino que as crianças cantam, satisfação é ter a Cristo. Satisfação sem fim! Sim, porque essa nunca mais vai acabar.

Mas, como Lea descobre então essa satisfação? A mesma coisa que acontece com Jacó ocorre com ela. Ele queria casar com Raquel, ele só queria ela, mas depois esta não vai ser suficiente para ele também, porque ele vai estar correndo atrás de outras coisas. Lea igualmente. Ela queria Jacó porque não era amada e era desprezada. No versículo 31: “Vendo, pois, o Senhor que Lia era desprezada”, ou seja, não era amada, “abriu a sua madre”, tornou-a fértil, “porém Raquel era estéril”. No versículo 30, “entrou também a Raquel e amou também a Raquel mais do que a Lea”. Imagine essas duas esposas.

Alguém pode falar: Mas poligamia não é errado? Sim, é! O plano original de Deus previa um homem e uma mulher, isso o Senhor Jesus fala no evangelho de Mateus, “no princípio não foi assim, no principio Deus criou macho e fêmea, um homem e uma mulher, e os dois se unem e formam uma só carne”, mas nós sabemos que o próprio povo de Deus acabou assimilando os costumes de outros povos, e assim, entrou no costume desses patriarcas, a poligamia. Mas quando lemos atentamente o Antigo Testamento, e vemos a vida de cada patriarca, um por um, seja Abraão, Moisés, Jacó, Isaque, Davi, Salomão, todos esses com suas esposas ou concubinas - sim, ainda havia estas também, algumas que não eram suas esposas, mas concubinas, que eram amantes no harém, como ainda até hoje se encontra no Oriente e Oriente Médio, enfim, quando lemos a vida desses homens, notamos que esse excesso de mulheres só trazia problemas para eles, porque não era o plano original de Deus. Tinha que ser um homem e uma mulher.

Mas voltemos a Lia, a não amada, ou, a menos amada. Imagine as duas morando juntas naquela casa, tenda ou acampamento. E Lia constantemente percebendo o olhar de Jacó para Raquel, vendo-o dar mais presentes para Raquel, dando mais tempo para Raquel, agradando mais Raquel e Lea, a desprezada, a depreciada, a feia. Aquela que ninguém quer, a que o pai precisou empurrar à noite, escondida, coberta de alguma coisa para Jacó não enxergar, caso contrário, ficaria encalhada o resto da vida. Essa era Lia. Coitada, está desesperada. No versículo 32 ela pensa que se der muitos filhos a Jacó vai ganhar um lugar de importância na vida dele, pois filhos são muito importantes: “e concebeu Lea e teve um filho e chamou seu nome Ruben”. Esses nomes hebraicos tem um significado. Nesta passagem lemos, “e concebeu Lea, e deu à luz um filho, e chamou-o Ruben; pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição, por isso agora me amará o meu marido”. Ruben significa “porque o Senhor atendeu minha aflição”. Agora sim, deve ter pensado Lia, meu marido vai me amar, dei Ruben a ele. Mas, isso não aconteceu. Então ela tem um outro filho, versículo 33: “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada”, (aborrecida, pouco amada) “e deu-me também este. E chamou-o Simeão”. E continua no versículo 34: “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo: Agora esta vez se unirá meu marido a mim, porque três filhos lhe tenho dado. Por isso chamou-o Levi”.

Ela estava andando no mesmo caminho de Jacó! Lia achava que se tivesse filhos conseguiria o que deseja e sendo assim, feliz. Mas no quarto filho, ela encontra o real significado da vida! Que não está nas coisas que temos, nas coisas que conseguimos, nas coisas pelas quais lutamos. Esse último filho: “Concebeu outra vez e teve um filho dizendo: “Essa vez meu marido me amará”? Não! Dessa vez meu marido me receberá? Também não. “E concebeu outra vez e deu à luz um filho, dizendo: Esta vez louvarei ao Senhor”. Por isso chamou-o Judá; e cessou de dar à luz”. Aqui ela descobre quem realmente é Deus, Jeová. Este “Senhor”, no original é “louvarei a Jeová”. Ela está agora conhecendo quem é Deus, e sabe que Ele é digno de louvor e que lhe dá a satisfação agora, porque o marido sumiu da cena. No quarto filho, não tem mais o marido na disposição dela, dessa vez é, “louvarei ao Senhor, por isso chamou seu nome Judá. E cessou de ter filhos”.

E a coisa maravilhosa disso é que quando ela encontrou realmente a razão do seu viver, e dá o nome de Judá a esse filho, passa a ser uma adoradora, passa a ser uma que louva ao Senhor, e o mais bonito da história estava reservado para depois, quando Jacó vai abençoar seus filhos, alguns capítulos à frente. Ele vai abençoando um por um, dizendo nome por nome, de todos os filhos que formariam depois a nação de Israel, e quando chega em Judá, Jacó fala que o cetro não se apartará dele. Judá seria aquele de onde viria o Messias. Lia é a mãe de Jesus, claro, falando em termos de linhagem; porque Deus queria trazer o Seu Filho ao mundo não através da bonita, não da lindíssima Raquel, da Raquel modelo! Deus queria trazer o Seu Filho da feia. Porque Seu Filho, vindo ao mundo, seria feio. Seria um que ninguém ia ligar, como ninguém ligava para Lia. Seria um de olhos tenros, ou baços, sem aparência, sem formosura. Quando vemos Isaías, capitulo 53, encontramos uma descrição desse Filho, desse descendente de Lia, ou Lia: “Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR? Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, (como Jacó olhou pra Lia) não havia boa aparência nele, para que o desejássemos”.

Era dessa mulher, rejeitada e feia, que Deus traria o Salvador do mundo, o nosso Salvador. Deus trouxe um que nós não desejaríamos, trouxe um que não tinha nenhum atrativo, é por isso que hoje, se você quiser receber a salvação, o perdão dos seus pecados, você terá que fazer uma escolha, que na realidade, é contrária ao seu bom senso e ao seu bom gosto. Você terá que escolher Cristo, o rejeitado. Aquele que veio ao mundo e os homens rejeitaram e o deixaram desfigurado, porque o socaram, bateram Nele, o coroaram com uma coroa de espinhos enfiada na cabeça, fizeram tudo que quiseram com Ele. Aquele que ninguém queria. Mas ele voltará como aquele que preenche os céus, como aquele que irá reinar nesta terra, mas antes Ele voltará para buscar todos os que são Seus. Quem são os Seus? Os rejeitados! Os enjeitados deste mundo, aqueles que não encontraram satisfação nas coisas, nem nas pessoas, nos lugares deste mundo, descobriram esse vazio dentro de si e fizeram como Lia, chegaram a um momento de sua vida e pararam de buscar nas coisas, a felicidade. Buscaram a felicidade em Deus, no Senhor Jesus. Foi em Cristo que essas pessoas buscaram aquilo que faltava para completá-las.

Portanto, o convite é que hoje você faça como Lia; louve ao Senhor, creia em Jesus como o seu Salvador, receba Aquele que ninguém quer: Jesus! Aquele que veio ao mundo feio, aquele que veio de uma ascendente feia; porque Deus sempre vai escolher as coisas feias do mundo, as coisas que nada são, para confundir as que são.