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https://youtu.be/GO_EJiLdeJc
A Palavra de Deus
Mario Persona
Você já
deve ter escutado pessoas dizendo que a Bíblia estaria cheia de erros, e algumas
chegaram a essa conclusão pelo fato de nossa Bíblia não ser baseada no texto
original, porém em sucessivas cópias de manuscritos. Considerando que os
manuscritos que deram origem à Bíblia moderna foram copiados muitas vezes, existiria
a possibilidade de alguém ter feito alterações nessas cópias. Alguns alegam que
a igreja católica teria reservado os manuscritos originais, produzindo outros para
introduzir neles os erros. Outra alegação é a de que a Bíblia também não seria
digna de crédito por não ser um documento histórico, e sim um conjunto de
lendas, ideias e costumes de uma época. Outros dizem que a Bíblia não serve para
uma civilização tão moderna e bem instruída quanto a nossa. Segundo estes, ela
podia ter sido muito boa para controlar as civilizações selvagens e bárbaras da
antiguidade, porém em nossos dias não precisaríamos de um livro assim por
sermos mais desenvolvidos e melhor informados. Resumindo, estas e outras
opiniões tentam de várias formas minar a legitimidade deste livro que conhecemos
como a Palavra de Deus.
Ao
abrirmos o Evangelho de Lucas em seu primeiro capítulo, encontramos: “Tendo,
pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se
cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o
princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente
descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já
informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza
das coisas de que já estás informado.” (Lc 1:1-4).
Lucas
escreveu o seu evangelho e o livro de Atos dos Apóstolos, porém ambos são
praticamente o mesmo texto e foram escritos em sequência cerca de 30 ou 40 anos
após o desenrolar dos fatos. Muitos alegam que tudo o que foi escrito naquela
época, ou seja, os evangelhos, as cartas e o livro de Apocalipse, seria fruto
da imaginação de seus autores. Mas quando lemos o início do Evangelho de Lucas
notamos logo que ele escreve como se fosse um repórter, um jornalista. Antes de
criar o texto que leva o seu nome, ele diz ter entrevistado pessoas, conversado
com muitos, e procurado investigar se era aquilo mesmo que tinha acontecido. A
minha convicção, e também de muitos cristãos, é que os evangelhos foram
escritos por inspiração divina, mas sabemos que Deus usou homens para escrevê-los.
É possível perceber isto claramente pela diferença de estilo entre os
diferentes evangelhos, entre as diferentes cartas dos diferentes apóstolos,
enfim, entre todos os livros que compõem a Bíblia. Foram homens que a
escreveram, porém divinamente inspirados.
Alguns
acham que escrever por inspiração divina seja algo como ver a mão do escriba se
movendo sozinha como se ele entrasse numa espécie de transe e recebesse assim a
mensagem vinda de Deus. Mas não é o que acontece. Deus usa o ser humano
integralmente e o mantém no pleno controle de seus sentidos. “Os espíritos dos profetas estão sujeitos
aos profetas”, escreve Paulo em 1 Coríntios 14:32. O Espírito Santo de Deus
inspirou as palavras na mente dos diferentes escritores da Bíblia como se as
ditasse em forma de pensamentos audíveis, e fez com que cada profeta ou
apóstolo as escutasse da maneira como elas foram ditadas.
Ao falar
desse processo de inspiração palavra a palavra, Paulo explica assim: “Deus no-las revelou [as palavras] pelo seu
Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de
Deus... As quais [coisas] também falamos, não com palavras de sabedoria humana,
mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas
espirituais com as espirituais.” (1 Co 2:10-13). Em diversas passagens do
Antigo Testamento encontramos Deus dando uma ordem direta aos seus profetas e
dizendo coisas como “escreve num livro
todas as palavras que te tenho falado.” (Jr 30:20). Mesmo assim cabia ao
homem a responsabilidade de transformar as palavras ditadas pelo Espírito de
Deus em um texto fiel às suas intenções. E este cuidado fica claro no modo de
Lucas proceder guiado pelo Espírito Santo. A introdução de seu evangelho mostra
que, embora inspirado, seu texto é também um documento histórico, não uma mera lenda.
J. R. R.
Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis”,
foi uma das maiores autoridades do mundo em lendas europeias, tanto é que seu livro traz muito desse seu
conhecimento transformado em um romance épico. “O Senhor dos Anéis” é uma imensa mescla de lendas. Tolkien era também
cristão e conhecedor da Bíblia. Outro autor, seu amigo e colega de ensino, era
C. S. Lewis, um ateu. Lewis alegava que os evangelhos não passavam de um
conjunto de lendas, porém Tolkien, com seu conhecimento do assunto, explicou a
ele que os textos não traziam qualquer característica de lenda, uma vez que para
se formar uma lenda é preciso tempo e, principalmente, a ausência de
testemunhas para contestar a sua veracidade. Os evangelhos, porém, formam um
conjunto de fatos registrados enquanto seus protagonistas e a maioria das
testemunhas ainda viviam. Não faria sentido alguém escrever uma lenda quando ainda
existia tanta gente capaz de contestar o que havia sido escrito. Quando o
apóstolo Paulo fala da morte e ressurreição de Cristo no capítulo 15 de sua
primeira carta aos Coríntios ele menciona que mais de quinhentas pessoas tinham
visto Cristo ressuscitado, e a maior parte delas ainda vivia quando escreveu
sua carta. É difícil você enganar um número tão grande de pessoas com uma
lenda.
Tudo nos
evangelhos nos leva a crer que seus autores narraram os fatos exatamente do
modo como eles ocorreram. O tempo passado entre os acontecimentos e seu
registro era muito pequeno para a narrativa ser considerada uma lenda. Além
disso, os evangelhos são tão ricos em pormenores que seria impossível alguém
escrever uma lenda com tamanha riqueza de detalhes.
Há
outras coisas importantes a serem consideradas. Quando você cria uma lenda, ou
compõe um romance, o herói de sua história dificilmente será alguém como Jesus,
que é o tema central dos evangelhos. Nós o vemos antes da cruz em agonia por
saber o que viria sobre si, dizendo: “Pai...
afasta de mim este cálice.” (Mc 14:36).
Da mesma forma, dificilmente os autores do texto falariam de seus
próprios defeitos, como alguns fazem nos evangelhos. Nos evangelhos e no livro
de Atos temos os apóstolos e outros discípulos fazendo coisas que não são
propriamente corretas. Como Pedro poderia falhar como falhou? E como iria permitir
que suas falhas ficassem registradas se elas não fossem realidade? Qualquer
outro teria maquiado situações constrangedoras, como fizeram com a história do
Brasil que estudamos na escola. Hoje sabemos o quanto ela foi alterada para que
seus heróis fossem apresentados como íntegros e irrepreensíveis. Até mesmo as
biografias de homens famosos trazem muitas partes inventadas ou alteradas, para
não deixarem transparecer o que seus personagens realmente eram. Por estas e
outras razões não existe fundamento para dizermos que os textos bíblicos são
uma obra meramente humana ou uma lenda.
Mais um
detalhe deve ser considerado. Se os evangelhos não passassem de lendas judaicas
do primeiro século, a primeira coisa que seus autores fariam seria colocar homens
como testemunhas da ressurreição de Cristo, jamais mulheres. Isto porque, na
sociedade daquela época, as mulheres não eram tomadas como testemunhas, a menos
que aquelas mulheres tivessem realmente visto a ressurreição de Jesus, caso
contrário os autores dos evangelhos não teriam registrado aquilo do modo como
fizeram.
Quando alguém
diz que a Bíblia não serve para os nossos dias está, obviamente, tirando
conclusões a partir da cultura em que vive.
Na
passagem do capítulo 24 do Evangelho de Lucas encontramos dois discípulos
caminhando decepcionados, pois confiavam que Jesus seria aquele que libertaria
Israel. Enquanto eles conversam com o próprio Jesus, sem que o tivessem
reconhecido, um deles diz: “Nós esperávamos que fosse ele o que remisse
Israel. Eles enxergavam a vida, morte e ressurreição de Cristo
dentro do contexto cultural no qual estavam inseridos. Desde a infância aqueles
dois homens haviam sido ensinados que o Messias viria para libertar Israel e
agora eles falavam disso para o próprio Messias ressuscitado que tinha vindo
com uma missão muito mais ampla do que simplesmente libertar Israel; aquele que
tinha vindo salvar pecadores. Eles estavam diante de uma Pessoa e de um evento muito
maior. Mas isso eles não conseguiam enxergar através das lentes culturais que
traziam.
Mesmo
dentro do condicionamento cultural em que vivemos você encontrará limitações
para se entender a amplitude daquilo que a Bíblia ensina. Experimente mostrar a
um jovem criado no Ocidente o que dizem os evangelhos e as cartas dos apóstolos
sobre as relações sexuais, que devem ocorrer apenas no matrimônio e entre um
homem e uma mulher. É bem provável que o jovem ocidental rejeite tal ideia. Ele
dirá que isso era para o primeiro século, não para hoje, quando existe
liberdade para as pessoas terem relações sexuais fora do casamento e inclusive
entre pessoas do mesmo sexo. Mas se você mostrar outra coisa que Jesus
ensinava, por exemplo, perdoar os inimigos, esse jovem ocidental dirá: “Ah, com isso eu concordo; é politicamente
correto amar, perdoar, não revidar etc.”. Veja que das mesmas páginas você consegue
extrair dois assuntos, um que é refutado imediatamente por alguém criado em uma
cultura ocidental moderna, e outro que é imediatamente aceito pela pessoa
dentro da mesma cultura.
Agora
tente mostrar estes mesmos assuntos tirados da Bíblia para um fundamentalista
islâmico e a reação será inversa. Ele irá concordar com a parte do Novo
Testamento que ensina que as relações sexuais devem ficar restritas ao
casamento e que sexo entre dois homens ou duas mulheres seria uma aberração.
Porém, não irá concordar com a ideia de perdoar um inimigo e a considerará até
absurda, pois no islamismo ele foi ensinado de acordo com a velha máxima da Lei
mosaica que dizia: “Vida por vida, olho
por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura,
ferida por ferida, golpe por golpe.” (Êx 21:23-25) . Portanto, considerando apenas duas culturas já
é possível perceber que cada uma irá enxergar a Palavra de Deus dentro do seu
contexto cultural e ambas acabarão rejeitando o completo teor da Bíblia, apesar
de concordarem com fragmentos de seu ensino.
Outro
tema normalmente usado pelos céticos e pelos que se opõem à fidelidade da
Bíblia é o da escravidão. Se a Bíblia fosse a Palavra de Deus, como ela poderia
admitir a escravidão ou não combatê-la? O problema é que quando encontramos
servos ou escravos na Bíblia, logo pensamos na escravidão no Brasil e em outros
países no período colonial. Os escravos dessa época eram pessoas negras,
sequestradas na África, discriminadas pela cor da pele e tratadas como animais.
É assim que enxergamos a escravidão, pois é assim que ela está inserida em nossa
memória cultural. Mas se você voltar no
tempo aprenderá que os escravos nos tempos bíblicos não eram nem um pouco
parecidos com os do Brasil colônia. Eles não eram diferenciados pela cor de sua
pele e podiam até pertencer ao povo de Israel. Um israelita podia dar-se a si
mesmo como escravo para o pagamento de uma dívida, e também recuperar sua
liberdade mediante pagamento. Portanto, estamos diante de um modelo de
sociedade completamente diferente do que conhecemos.
Por esta
razão, não é tarefa simples pegar uma Bíblia e dizer que ela está errada, como
fazem muitos céticos e inimigos da Palavra de Deus. Nosso referencial é por
demais influenciado pelo contexto cultural em que vivemos para que nossa
conclusão sobre a Bíblia seja imparcial. Querer julgar a Bíblia por aspectos
como os que mencionei aqui denota, além de ignorância, uma boa dose de soberba
daquele que tenta fazê-lo, pois o ser humano sempre achará que a sua cultura está
acima de todas as outras como referencial. As pessoas de minha geração se
lembram do modo como nos vestíamos na década de 1960 e das gírias que
falávamos. Hoje nossos filhos riem das roupas que veem nas fotos antigas, mas
para nós elas eram a última moda. Naquela época achávamos que o nosso modo de
vestir devia ser o referencial adotado por todos, e zombávamos das roupas dos
mais velhos do mesmo modo como a geração atual zomba de nossas roupas de então.
Mas logo virá uma próxima geração e será ela que irá rir dos costumes dos jovens
de hoje. Portanto, ainda que nenhuma cultura seja permanente, a Bíblia é permanente. E ela deve
permanecer tendo este caráter, mesmo que algumas coisas nela nos deixem
intrigados, nos desagradem ou estejam fora de nossa compreensão.
Os
homens tentam adaptar a Palavra de Deus aos seus interesses e o resultado é sempre
ridículo. Existe uma edição da Bíblia da qual foram excluídas todas as
passagens ruins, como as que falam do lago de fogo e da condenação eterna. Apenas
as palavras bonitas, agradáveis e politicamente corretas foram deixadas. O
problema é que as pessoas que fizeram essa edição se consideraram mais sábias
que o próprio Deus, quando ousaram dizer o que estaria correto e o que não
estaria. No momento em que alguém decide julgar o que é certo e o que é errado
essa pessoa acaba assumindo a função de Deus, caso seja ela ou sua opinião o
referencial adotado. É mais ou menos como um casamento. Imagine você se casar com uma pessoa que
concorde com tudo o que você diz. Você diz que gosta de azul, e ela concorda.
Você gosta de feijão, e ela adora feijão. Você decide pintar a casa de uma
determinada cor e ela diz que sempre sonhou em ter uma casa assim. A princípio
pode parecer muito bom viver com uma alma
gêmea nos mínimos detalhes, mas não demoraria muito para você achar que
estava vivendo com uma pessoa sem personalidade. A opinião dela seria igual à
sua nos mínimos detalhes, o que seria o mesmo que você se casar com um clone. Chegaria
um momento quando nem mesmo haveria diálogo entre vocês, pois um saberia de
antemão o que o outro iria falar e estaria de acordo de qualquer maneira.
Deus
quer ter um relacionamento com você, mas não nas bases que você estabelecer, e
sim nas bases que ele estabeleceu. E se ele realmente é Deus e a Bíblia a Sua
Palavra, esta não irá concordar com você em tudo. Se concordasse, não seria mais
a Palavra de Deus, e sim de alguém idêntico a você, com os mesmos gostos, as
mesmas ideias e opiniões. É importante entender isto, pois quando você entende,
percebe que não terá o poder de julgar a Bíblia, mas será ela o gabarito pelo
qual você será julgado. “Porque a palavra
de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes,
e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta
para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma
encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar.” (Hb 4:12-13). Portanto, ela denuncia
quem nós realmente somos e não gostamos nem um pouco disso. Ela revela que
somos pecadores, descendentes de seres criados por Deus que um dia decidiram
viver segundo a própria vontade e por isso mergulharam na ruína. Se você duvida
que o ser humano é intrinsicamente mau, abra o jornal de hoje para ver a
quantas anda o mundo habitado por uma humanidade avessa a Deus. Algumas pessoas
ainda dizem que se Deus existisse, que se Deus fosse realmente bom, o mundo não
estaria assim. Realmente, se o ser humano tivesse permanecido submisso a ele para
que ele dirigisse todas as coisas, o mundo não estaria do jeito que está. Mas o
homem excluiu a Deus de seus planos e o resultado está aí para ninguém poder
contestar.
Outro
argumento bastante frágil contra a Bíblia é dizer que a igreja católica teria escondido
os manuscritos originais e produzido outros, a partir dos quais teria sido
elaborada a Bíblia que temos em mãos. Para aceitar tal argumento você
precisaria ter acesso aos originais para comparar, o que nem mesmo os adeptos
dessa teoria alegam possuir. A verdade é que a Bíblia que temos foi produzida a
partir de muitas cópias de muitos manuscritos e nem todos se encontram no
Vaticano. A maioria dos manuscritos e fragmentos, nos quais se baseia o texto
bíblico, está fora de Roma, em universidades e museus de todo o mundo, e em grande
medida eles concordam entre si. Hoje é possível você pegar, por exemplo, o
livro de Isaías de sua Bíblia, o qual foi traduzido de uma cópia de cópias dos
originais, e compará-lo com o manuscrito descoberto em 1947 nas cavernas de
Qumran próximas ao Mar Morto. Naquele ano um pastor de ovelhas descobriu uma
série de cavernas que continham diversos vasos, e dentro deles muitos
manuscritos. O de Isaias encontrado ali é setecentos anos mais antigo do que o
que foi usado na atual versão da Bíblia e, no entanto, os textos são
considerados idênticos. Ninguém sabe quantas cópias foram produzidas nos
setecentos anos que se passaram entre o que foi encontrado em Qumran e o que
foi utilizado em nossa Bíblia atual, mas isto já dá uma ideia da fidelidade do
trabalho dos escribas e copistas da antiguidade e, acima de tudo, do cuidado de
Deus em preservar a sua Palavra.
Como
você pode perceber, os argumentos levantados contra a Bíblia costumam ser
bastante frágeis quando examinados com o devido cuidado. O que não podemos é
ter medo deles e adotar a postura de quem prefere nem ouvir falar do assunto. Podemos
confiar que Deus teve o devido cuidado de preservar este livro que se denomina
a si mesmo de “Palavra de Deus” para
que nós tivéssemos acesso a ele séculos ou milênios após seus textos originais
terem sido produzidos.
Quero
convidá-lo a ler uma passagem que tem muito a ver com o tema deste capítulo e
vamos encontrá-la no Evangelho de Lucas, o mesmo que foi tão criterioso ao
registrar os fatos que ocorreram por ocasião do nascimento, vida, morte e
ressurreição de Jesus.
“E eis
que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém
sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E iam falando entre si de tudo aquilo
que havia sucedido. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo
perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos
deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. E ele lhes disse:
Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais
tristes? E, respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse-lhe: És tu só
peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes
dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a
Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de
Deus e de todo o povo; e como os principais dos sacerdotes e os nossos
príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram. E nós
esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é
já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. É verdade que também
algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao
sepulcro; e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto
uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco
foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém, a
ele não o viram. E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer
tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse
estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os
profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. E
chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles
o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia.
E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando
o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o
conheceram, e ele desapareceu-lhes. E disseram um para o outro: Porventura não
ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos
abria as Escrituras? E na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém, e
acharam congregados os onze, e os que estavam com eles, os quais diziam:
Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão. E eles lhes
contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no
partir do pão.” (Lc 24:13-35).
Os dois
discípulos questionam Jesus, que está ao lado deles, mas não o reconhecem
porque seus olhos estão espiritualmente vendados: “És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm
sucedido nestes dias?” (Lc 24:18). Os discípulos estavam limitados em seus
pensamentos. Eles falavam das mulheres, que tinham tido uma visão de anjos
dizendo que Jesus estaria vivo. Tudo aquilo os deixava confusos, porém Jesus os
repreende: “Ó néscios, e tardos de
coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que
o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” (Lc 24:25-26). Ele não apenas mostra que os profetas do
Antigo Testamento eram dignos de crédito em tudo o que haviam escrito, mas vai
além ao revelar ser ele o tema central das Escrituras: “E, começando por
Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas
as Escrituras.” (Lc 24:27). Se ele começou por Moisés, que escreveu
o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia, e terminou falando de “todas as Escrituras”, fica evidente que
Jesus deu o seu aval divino ao que hoje chamamos de Antigo Testamento.
Os
discípulos não haviam conhecido pessoalmente os profetas do Antigo Testamento,
porém para Jesus os seus escritos eram dignos de crédito e para os discípulos
deviam ser também. Hoje podemos ler o profeta Isaías falando do Servo sofredor,
daquele que viria irreconhecível e iria para o matadouro como ovelha muda, e no
Salmo 22 Davi relata os sentimentos daquele que seria colocado entre ladrões e
os detalhes de sua morte em cruz. Davi escreveu que nenhum de seus ossos seria
quebrado, que em sua sede ele beberia vinagre, teria suas vestes repartidas
entre os soldados e que estes lançariam sorte sobre elas. Se para Davi e Isaías
aquelas coisas eram ainda futuras, para nós é história e todas elas se
cumpriram na vida e morte de Jesus. Se o próprio Senhor autenticou o testemunho
dos profetas do Antigo Testamento, temos razões para crer também no testemunho
dos apóstolos e profetas do Novo Testamento. O apóstolo Pedro, ao falar das
cartas de Paulo, as colocou no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento.
Ele escreveu: “Em todas as suas epístolas
[de Paulo], entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes
torcem, e igualmente as outras Escrituras” (2 Pe 3:16).
Portanto
temos as Escrituras do Antigo e Novo Testamento, mas o que fazemos com elas? Quando
você dá uma Bíblia de presente a alguém, a primeira coisa que a pessoa faz é
procurar em suas páginas o que deve fazer ou como deve viver para agradar a
Deus e ser recompensada com bênçãos nesta vida e na vida além. “O que
devo fazer pra ser salvo? O que devo fazer pra ser feliz? O que devo fazer pra
ser abençoado? O que devo fazer pra ser curado das minhas doenças? O que devo
fazer pra ganhar dinheiro?” Estas são as primeiras indagações de quem
começa a ler a Bíblia. É como se tivesse nas mãos um manual do tipo “O que devo fazer”. Mas a Bíblia não é
um livro escrito sobre aquele que lê. Ela certamente foi escrita para você, mas não é um livro sobre você. Toda ela é sobre Jesus. “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que
dele se achava em todas as
Escrituras.” (At 24:27).
No
início da Bíblia encontramos os livros escritos por Moisés, um grande herói do
ponto de vista humano. Devemos seguir a Moisés? Não! Moisés já nos falava de
Jesus quando os israelitas ainda eram prisioneiros no Egito. Deus ordenou a
eles que sacrificassem um cordeiro e passassem seu sangue sobre os batentes
exteriores das portas das casas onde viviam.
Aquele cordeiro era uma figura de Cristo, pois séculos mais tarde, no
Novo Testamento, isso fica claro quando João Batista aponta para Jesus e diz: “Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (Jo 1:29). Se continuarmos voltando
no tempo, até Adão e Eva, descobriremos que Adão foi colocado num sono
profundo, o seu lado aberto, e uma costela tirada a partir da qual Deus criou
uma esposa para ele. Cristo na cruz foi colocado no sono profundo da morte, o
seu lado foi rasgado pela lança do soldado e dali saíram o sangue da expiação e
a água da purificação que expiam o pecado do pecador e o deixam apto para ter
acesso à presença de Deus sem ser destruído. Foi do lado aberto de Jesus que saíram
os elementos necessários para Deus formar aquela que é a Igreja, a noiva de
Cristo.
Nos
tempos de Moisés, o povo andou pelo deserto carregando a “Arca da Aliança”, e aquela arca era uma figura de Cristo. Assim
como Cristo andou pelo deserto deste mundo, aquela arca de madeira -- figura da
humanidade que vem da terra -- viajava escondida sob uma cobertura de pele de
animais marinhos e um tecido azul. Qualquer um podia ver em Jesus algo de
celestial enquanto ele caminhava neste mundo, mas nem pecado, nem tentação alguma
podia ter acesso a ele, do mesmo modo como nada podia atravessar aquela capa
impermeável de peles finas que cobria a arca. À semelhança da arca, ainda que
os homens conseguissem ver o exterior de Jesus, ninguém via sua glória interior,
representada pelo ouro que revestia a arca por dentro e por fora. Dentro dela
estavam as tábuas da Lei dadas a Moisés, o que nos fala do único que realmente
pôde cumprir toda a Lei, o Filho de Deus, perfeito, puro e sem pecado. Em sua
peregrinação pelo deserto os israelitas bebiam água de uma rocha que tinha sido
ferida pela vara de Moisés, e aquela rocha também era uma representação ou
figura de Cristo.
Já deu
para você perceber que a Bíblia inteira é sobre Cristo? Não se trata de um
livro para você ter em mãos e procurar em suas páginas o que deve fazer para
ser salvo. Pelo contrário, a Bíblia é o livro cujas páginas mostram o que
Cristo fez por você. É disso que as Escrituras falam desde o princípio.
O que Jesus fez para você ser salvo, o que ele fez para limpar os seus pecados,
o que ele fez pra Deus lhe perdoar, o que ele fez pra Deus lhe aceitar, o que ele
fez para você poder ir para o céu. O que Jesus fez, não o que você fará! Porque
se alguém fizesse qualquer coisa em prol da própria salvação, a glória seria da
pessoa e o céu estaria cheio de gente dizendo “Cheguei aqui porque fui muito honesto, dei muitas esmolas, ajudei
muitas pessoas etc.”, enquanto outros diriam “Estou aqui porque fui um grande artista, muito trabalhador, um grande cientista,
médico ou inventor etc.”. Todas estas coisas que nós valorizamos numa
pessoa neste mundo seriam consideradas como créditos para a salvação, porém no
céu só existe um tipo de pessoa, aquela que diz: “Estou aqui porque Cristo morreu por mim; estou aqui porque eu era um
pecador perdido e Jesus foi à cruz pagar por meus pecados, derramou ali o seu
sangue para minha purificação; ressuscitou ao terceiro dia para minha
justificação.”.
Lembro-me
de um irmão, que pregava o evangelho numa praça na Bolívia, e foi abordado por
um ouvinte, que lhe disse:
-- Gostei
do que você falou; achei muito bonita a sua pregação, porém só não concordei
com uma coisa. Você disse que todos nós somos pecadores perdidos. Mas eu não
sou pecador, sou uma pessoa que sempre fez o bem. Eu nunca pensei mal de
ninguém, nunca prejudiquei ninguém, nunca matei, roubei ou adulterei. Enfim, sou
uma pessoa boa e eu vou para o céu porque eu creio que Deus irá ver a minha
bondade e me receberá.
O
pregador comentou:
-- Bem,
então teremos um problema no céu. Você sabe o que vai fazer no céu?
-- Não
faço ideia.
-- Então
vou lhe contar. No livro de Apocalipse há uma cena que se passa no céu e lá
todos os salvos estão cantando.
-- Bem,
então eu também vou cantar -- disse o homem.
-- Pois
é aí que está o problema -- continuou o pregador -- Todos estarão cantando um
hino de louvor a Cristo, cuja letra diz: “Digno
és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu
sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação.”
(Ap 5:9). Todos estarão cantando assim e você estará cantando outro hino que
diz: “Digno sou de tomar o livro, e de
abrir os seus selos; porque fui bom, honesto, caridoso etc. para comprar a mim
mesmo para Deus.”. Percebe como você estará cantando fora do tom celestial?
Não
temos em nós mesmos a capacidade ou condições de chegar à presença de Deus apresentando
um átomo sequer de bondade. O padrão de Deus é perfeito, pois seu padrão é
Cristo, o homem perfeito. Você teria coragem de dizer que é tão perfeito quanto
Jesus? Que sua vida é tão santa e pura quanto a dele foi? Não, nenhum ser
humano na face da terra poderia se comparar ao Filho Eterno de Deus. Por isso
Deus, por não encontrar um ser humano tão perfeito e imaculado quanto Jesus, entregou
o seu próprio Filho, o qual se fez carne e habitou entre nós em sua senda até a
cruz. Este é o tema central da Bíblia: O Filho de Deus encarnado; Deus vindo ao
mundo na condição humana, porém sem pecado. Na cruz Jesus tomou sobre si os
nossos pecados e morreu, pois o pecado exigia um juízo e esse juízo era a
morte. Você pergunta o que precisa fazer para ser salvo de seus pecados e do
juízo eterno? Nada. Tudo o que precisava ser feito Cristo já fez.
Uma
história passada nos tempos da reforma protestante falava de um homem muito
rico que sofria de uma profunda angústia por não saber o destino de sua alma.
Creio que a maioria das pessoas sofre dessa mesma incerteza por não saber o que
acontecerá após a morte. Aquele homem começou então a procurar fazer tudo o que
podia na tentativa de garantir sua salvação eterna: dava esmolas, ajudava a
quem precisasse, procurava fazer o bem e evitar o mal, mas ainda assim não
tinha paz com Deus. Alguém lhe disse que em certa cidade na Suíça havia alguém que
sabia a resposta do que ele precisava fazer para ser salvo. O homem viajou
vários dias até encontrar aquela pessoa que, na verdade, era um dos cristãos
reformados. Quando o encontrou disse estar disposto a fazer qualquer coisa ou a
pagar a quantia que fosse necessária, desde que ele lhe dissesse o que precisava
fazer para ter a vida eterna. O homem lhe respondeu:
-- Você
chegou tarde demais. Agora já não há mais nada que possa ser feito! Você chegou
com um atraso de mil e quinhentos anos, pois o que precisava ser feito já foi
feito por Jesus na cruz. Agora basta você crer nele e aceitar o sacrifício que
ele fez em seu lugar para pagar por seus pecados.
É nisto
que se resume a mensagem do Evangelho: A obra já foi feita e agora temos ressuscitado
esse que morreu na cruz e consumou a obra da salvação, Jesus, o Filho de Deus.
Mas se Jesus não tivesse ressuscitado -- se no túmulo ainda existissem os
restos de Jesus -- o evangelho perderia totalmente o sentido. Ossos secos de
nada serviriam para nossa salvação. Jesus teria sido apenas mais um que passou
por aqui, falou coisas bonitas como fizeram muitos filósofos, mas que de nada
valeriam para garantir o nosso destino eterno. Não somos salvos por aprender
belas frases, mas por Jesus ter morrido por nossos pecados. Deus, vendo que a
obra estava completa e toda a justiça cumprida, ressuscitou a Jesus da morte e
seu túmulo agora está vazio. O chamado “Santo
Sepulcro”, lugar de peregrinação visitado por pessoas das principais
correntes do cristianismo que acham existir algum poder ali, não serve para coisa
alguma. É apenas uma cova vazia, Jesus não está lá. Os que visitam o lugar deveriam
se lembrar das palavras do anjo que falou às mulheres que foram ao túmulo de
Jesus: “Por que buscais o vivente entre
os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou.” (Lc 24:5-6). Jesus ressuscitou
e está no céu, aguardando o momento quando virá buscar aqueles que creem nele, os
que pela fé receberam a salvação.
Porém um
ponto importante a ser entendido é que quando falamos da Palavra de Deus não é
por um raciocínio lógico que chegamos à salvação. Deus designou homens para
pregarem o evangelho, uma tarefa que não deu aos anjos. Ele quis que homens
falhos, pecadores, e que um dia foram salvos por conhecerem essa graça,
pregassem o evangelho. Mas esteja certo de que nenhum homem pode convencer
outro ser humano sobre a verdade que está nas Escrituras. E ninguém pode
convencer sequer a si mesmo, pois não é algo que dependa do grau de
conhecimento ou inteligência. Se alguém achar que será salvo por ter feito
muitos cursos de teologia, saiba que o mais provável é que venha a ocorrer o
contrário, pois esses cursos poderão até atrapalhar. A carta de Paulo aos
Romanos diz que o poder não está na pessoa que prega ou naquela que escuta, mas
na mensagem pregada, pois “o evangelho de
Cristo é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.” (Rm 1:16). Estamos falando aqui de um poder sobrenatural
que extrapola qualquer capacidade humana, que homem nenhum é capaz de manipular.
O Evangelho é o poder de Deus!
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela
palavra de Deus.” (Rm 10:17). Quando você escuta a Palavra de Deus pregada
por um homem cheio de defeitos como qualquer outro -- quando você ouve dele a
velha história de Jesus morrendo por nossos pecados e ressuscitando ao terceiro
dia -- o Espírito Santo vem e opera em seu coração. E o que você tem de fazer
em resposta a essa mensagem? Diga “Sim”.
Compare a aceitação da mensagem do Evangelho a uma cerimônia de casamento,
quando é perguntado à noiva se ela deseja aceitar o noivo como seu esposo. O
que a noiva diz? “Sim!” Uma palavra
tão pequenina, mas com um peso tão grande. Se aquele “Sim” pode mudar por completo a vida da noiva, quanto mais poderá
fazer o “Sim” que você disser a
Jesus. Basta você aceitar o presente de Deus e crer nele. Basta dizer em seu
coração: “Sim, Senhor, eu quero ser
salvo. Eu aceito!”.
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em
teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto
que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a
salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será
confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o
Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10:9-13).
Voltamos
agora à caminhada dos dois discípulos com Jesus para testemunharmos do poder
que tem essa Palavra. Eles chegaram a uma aldeia e Jesus sinalizou que iria
continuar caminhando, mas eles insistiram dizendo que era tarde e pediram-lhe
que ficasse com eles. Ele entrou no aposento e, quando deu graças pelo pão que
iriam comer, os olhos dos dois discípulos foram abertos e eles viram que
estavam com Jesus. Só então eles perceberam quem era de fato aquele Homem, mas
Jesus desapareceu da presença deles. Ao ressuscitar, Jesus voltou a ter um
corpo material. Sim, material! Devemos ter cuidado com a influência que a
cristandade recebeu do Oriente e suas religiões pagãs, ao acharmos que matéria seja
algo ruim e que as coisas espirituais são necessariamente etéreas e intangíveis,
isto é, sem qualquer substância. Não! Deus criou a matéria e o mundo material e
atestou: “É bom”. Ao criar o homem
num corpo material e completar assim sua obra, “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom.”. (Gn 1:25, 31).
O Filho
de Deus jamais teria vindo em carne se a matéria fosse algo nocivo. Deus enviou
“o seu Filho em semelhança da carne do
pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Ele veio “em semelhança da carne do pecado” por
não ter pecado, mas mesmo assim seu corpo era um corpo físico semelhante ao de
Adão. Como qualquer ser humano ele podia comer, beber e fazer uso dos sentidos.
Depois de ressuscitado ele também comeu com os discípulos em um corpo físico
feito de matéria, não exatamente o mesmo tipo de matéria do corpo que temos
hoje. O cristianismo, tal como o recebemos por tradição, foi muito influenciado
pelas filosofias orientais que acreditam que a vida no além esteja limitada a
um corpo etéreo e sem qualquer substância. A Bíblia, porém, ensina que não é
assim. Aqueles que morrem, certamente continuam vivos e conscientes em
espírito, mas haverá um dia quando terão seus corpos ressuscitados e serão
corpos de carne e ossos como é o de Jesus neste exato momento. Por mais
estranho que possa parecer a você, hoje há um Homem de carne e ossos no céu. Vemos
que a Bíblia diz que no final Deus fará novos céus e nova terra, que serão
habitados por pessoas ressuscitadas em um corpo semelhante ao de Jesus, algo
muito diferente do que encontramos no ensino de muitas religiões cristãs
impregnadas de filosofia oriental.
Voltando
aos discípulos na estrada para Emaús, Jesus desapareceu da presença deles porque,
apesar de estar em um corpo ressuscitado, de carne e ossos, ainda assim era um
corpo com características diferentes de nosso corpo mortal, isto é, capaz de
aparecer e desaparecer ou de entrar e sair de um aposento com portas e janelas
trancadas. Assim que os deixou, no versículo 32 de Lucas 24 lemos que os
discípulos comentavam entre si: “Porventura, não ardia em nós o nosso
coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras? E,
na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém.”. É bom lembrar que
o relato indica que no início eles estavam se afastando de Jerusalém e
caminhando para Emaús. Mas depois de tudo o que passaram decidiram voltar para Jerusalém,
o lugar onde estavam os outros discípulos e onde deveriam permanecer, conforme
as instruções do próprio Senhor, que disse: “Ficai,
porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc
24:49). Por que aquilo que Jesus lhes dizia no caminho, a respeito das
Escrituras, ardia em seus corações? Porque assim é o poder das Escrituras. Não
é um livro qualquer, não é uma história qualquer. É o poder de Deus para
salvação de todo aquele que crê. No momento em que você entra em contato com a
Bíblia, com o Evangelho, com a Palavra de Deus, você já não pode mais ficar
indiferente. Você é condenado pela própria Palavra de Deus, se não crer em
Jesus, ou é salvo por ela se crer.
Você já
sentiu essa Palavra arder em seu coração? Já se deu conta de que o Espírito
Santo estava agindo em você? Se assim for, não existe uma resposta melhor do
que você dizer “Sim” ao Senhor quando
ele quiser falar no mais profundo do seu ser. Você precisa dizer “Sim”, principalmente se ainda não creu
no Salvador, se ainda não teve um encontro pessoal com Cristo. Deus quer que
você diga “Sim”, que se reconheça
pecador e creia que “o sangue de Jesus
Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” (1 Jo 1:7). Ao fazer
isso, acontecerá com você algo semelhante ao que aconteceu com aqueles dois
discípulos. Você dará meia volta e deixar de caminhar em sentido contrário ao
lugar onde Deus quer que você esteja, a casa do Pai. Deus tinha um plano para o
homem, o homem transtornou esse plano, porém Deus continua, em sua infinita
paciência, buscando o perdido e anunciando essa preciosa Palavra para podermos
crer em Jesus e recebermos a salvação eterna. Teria você coragem de dizer “Não” a um tão irresistível convite de
amor?