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O filho prodigo - Mario Persona

O filho prodigo - Mario Persona
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Youtube: https://youtu.be/w5kAgyjUNEw

O Filho Pródigo
Mario Persona

Eu gostaria de falar um pouco da história dos dois filhos pródigos que a Bíblia registra em Lucas, capítulo 15. Existe uma ideia, que é normal as pessoas terem, de que as religiões são todas as mesmas, são todas iguais e têm por objetivo levar o homem até Deus. Você encontra em todas as religiões princípios bons, preceitos corretos, regras interessantes. As pessoas conseguem melhorar quando pertencem a qualquer religião, seja ela budista,  muçulmana, xintoísta, hindu; em qualquer uma ela muda o comportamento, às vezes ela fica mais pacífica, às vezes não, porém há uma mudança de comportamento. E muitas pessoas associam ao cristianismo as mesmas qualidades, as mesmas características dessas religiões que existem no mundo acreditando que o cristão seja também uma pessoa que procura aceitar certas regras de vida, os dez mandamentos, algo assim e aí melhorar, e, melhorando ele poderia um dia, quem sabe, receber de Deus a salvação.

Se algumas falam de nirvana, outras falam de paraíso, outras falam de céu, outras falam de reencarnação. O cristianismo é enquadrado como mais uma religião assim. Porém, esse engano é muito grande, pois o cristianismo se distingue de todo tipo de fé, de crença, de religião e eu quero chamar a atenção para este ponto, o porquê do cristianismo bíblico ser completamente diferente.

Ele é completamente oposto ao que as religiões ensinam e não estou falando aqui de preceitos, mas de princípio, a natureza da coisa em si. Nessa parábola dos dois filhos pródigos, que costuma ser chamada de parábola do filho pródigo, na verdade, são dois os filhos pródigos aqui. É importante entender que pródigo é uma palavra em português, às vezes, confundida com a palavra prodígio. Alguém fala eu tenho um filho pródigo e outro fala, eu tenho um filho prodígio, e acham que é a mesma coisa. Prodígio é um filho inteligente e pródigo é um filho gastador, esbanjador, que quer gastar, jogar fora tudo o que tem. E aqui nós temos dois filhos que são assim, dois filhos pródigos.

No capítulo 15 de Lucas, versículo 11 em diante, o próprio Senhor Jesus está contando a história: "E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e ele começou a padecer necessidades. Ele foi a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado."

Esta parábola mostra três coisas fundamentais que são completamente diferentes no cristianismo da Bíblia. A primeira coisa é o conceito de pecado, o que é desobediência a Deus, o que é uma pessoa perdida, o que é uma pessoa que precisa de salvação. E é muito diferente daquilo que a gente normalmente aprende dentro das religiões. O segundo conceito mostrado é a natureza deste pai, que aqui é entendido como uma figura de Deus, e a natureza de Deus e o Seu relacionamento com Suas criaturas que também, dentro da fé cristã, é completamente diferente de tudo que você pode encontrar em termo de religiões. A terceira coisa é como alguém se achega a Deus, como alguém pode ser salvo, como alguém pode ser resgatado do seu estado arruinado, do seu estado de perdido e passar para a condição de salvo.

As religiões até concordam que o homem está aquém daquilo que ele deveria atingir. Um hinduísta acha que existem planos superiores que o homem precisa galgar para chegar lá, qualquer religião reencarnacionista vai dizer também que você precisa reencarnar porque você está sempre aquém daquilo que seria o ideal, que alguns vão chamar de nirvana, de salvação, céu, paraíso ou algo assim. Todas concordam neste ponto, mas, como chegar a Deus, como chegar ao Céu, como ser salvo, é um ponto importante e completamente diferente dentro da fé  cristã.

Esse filho mais moço chega um dia e, simplesmente, decide que quer sair pelo mundo, quer aproveitar a vida, fazer as suas descobertas, descobrir por si só o que é certo e o que é errado, o que é verdade e o que é mentira, ele quer descobrir a vida. Creio que muitos aqui já passaram por esta experiência de querer descobrir a vida, experimentar as coisas. Ah, eu vou decidir por mim, não vou querer saber o que meu pai pensa, o que minha mãe pensa, o que as religiões pensam. Eu vou decidir. E ele pede a seu pai a parte que lhe cabe por herança para sair por aí. A princípio a gente lê esta passagem e não dá muita importância a um detalhe importantíssimo aqui: quando alguém recebe uma herança é porque o pai morreu. Uma pessoa que tem o pai, o pai morre e então é feita a partilha dos bens entre os herdeiros.
Ao pedir a sua parte da herança esse filho está mandando uma mensagem ao seu pai que diz o seguinte: pai, eu quero que você morra, eu não quero mais você, eu quero viver independente de você, eu quero a minha parte da herança.

Obviamente o pai não tinha morrido e esse pai, que olhamos como uma figura de Deus, tem uma reação incomum para essa época no oriente médio onde se passa essa parábola; incomum até na maioria dos pais. Esse pai não dá um "carreirão" no filho, não manda embora, não expulsa o filho de casa depois de uma afronta tão grande como esta, falando que quer a parte da herança, sendo que o pai não morreu ainda, este pai, simplesmente, acata o pedido do filho.

Um problema grande naquela época é que a herança, na verdade, era terra, camelo, gado. As pessoas não tinham conta em banco, ações, dinheiro na poupança, nada disto. Elas tinham terras e, no momento em que o filho pede a sua herança, o pai tem que vender a sua terra para dar a parte do filho, transformar em dinheiro ou em gado ou qualquer coisa que ande, porque dinheiro também andava naquela época; cabras, camelos, eram dinheiro. Transformar em alguma coisa que o filho possa levar embora.

Eu li em algum lugar que o costume naquele tempo era dividir, dar um terço para o filho mais novo e dois terços para o filho mais velho, mas mesmo que fosse dividir em metades, aquele pai teve que vender uma parte e, vendendo uma parte ele perde, passa a ter menos renda da sua terra. Se ele dividiu pela metade ou, dois terços para o mais velho, não importa, ele vai diminuir também o rendimento dele. O pai perde ao acatar o desejo do filho. E o filho sai. A história é bem conhecida. Como ele gasta, perde tudo, ele vai sentir uma falta muito grande das coisas que perdeu. Vai chegar o momento em que ele não vai ter nem o que comer, vai se alimentar das bolotas que os porcos comiam e, vai chegar o momento em que ele vai cair em si e vai dizer que não era aquela vida que ele queria, só que agora ele não tem mais nada.

Ele vai ficar em trapos; o pai vai vesti-lo depois, pois ele estava em frangalhos, tinha se tornado um mendigo, e ele cai em si e diz a si mesmo: Quantos assalariados, empregados do meu pai, diaristas do meu pai, têm abundância de pão e eu aqui pereço de fome. Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho, faze-me como um dos teus assalariados. Eu creio que muitos de nós já passamos por este momento em que chegamos ao fundo do poço e falamos assim: Realmente não valeu a pena até aqui. Experimentei de tudo, fiz tudo, mas eu não estou satisfeito, falta alguma coisa.

A questão é que o homem foi criado por Deus para ter um relacionamento com Deus e, qualquer coisa menos do que um relacionamento com Deus, vai nos deixar insatisfeitos. Não há como ficarmos satisfeitos plenamente se falta Deus na nossa vida. A falta que nós temos no coração é do tamanho de Deus. Só tem um que encaixa ali e serve, e completa todas as coisas, satisfaz plenamente, é Deus. Por mais que a gente se engane correndo daqui para ali não adianta, alguns talvez corram a vida inteira atrás das coisas, pensando encontrar satisfação em algum lugar em alguma coisa, as coisas são finitas, elas passam.

Nós vimos agora o mundo passando por uma situação terrível, pessoas que eram milionárias, de repente, perderam tudo; pessoas que acreditavam em uma carreira, de repente não tem mais carreira, desapareceu, voou, tiraram o tapete debaixo dos seus pés. Pessoas que tinham bens terão que vender para ver se conseguem sobreviver e, num momento em que esses bens valerão cada vez menos, agora com todas as quedas do mercado. Tudo aquilo que uma pessoa poderia confiar, de repente, ela percebe que foi tudo por água abaixo. E esse filho chega nesse ponto. Pai, eu pequei.  Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho.

Ele decide o que ele vai fazer, ele decide qual a relação que o pai terá com ele porque ele acha que o pai agirá como um pai severo, um pai duro, como um pai exigente agiria. Será que o meu pai deixa eu voltar? Será que o meu pai me dará atenção? Pai, já nem sou teu filho mas deixa eu comer pão aqui, deixa eu cuidar dos porcos aqui também, qualquer coisa, deixa eu trabalhar como um empregado, como um assalariado, me coloque na condição mais baixa. Aqueles a quem um dia eu dei ordens, agora vou ficar junto a eles recebendo ordens. Pai, não sou digno de ser chamado teu filho, faze-me como um dos teus empregados. Ele se levanta, vai ao pai e aqui, mais uma vez, vemos a diferença desse pai. Jamais um pai nesse ambiente cultural do Antigo Testamento sairia correndo. Nós vemos em filmes de árabes, palestinos, jamais um pai sai correndo. Os homens não correm lá, talvez as mulheres sim, mas um pai, com toda a sua dignidade, fazendeiro, dono de muitas coisas, sair correndo na frente dos seus empregados, se humilhar? Jamais! Porém este pai sai correndo.

Não é o filho que chega em direção ao pai, é o pai que corre em direção ao filho. Não é o homem que vai até Deus, é Deus quem vai até o homem. Deus corre em direção ao homem, Deus ama o ser humano e Deus faz isto por amor. Curioso aqui é que antes que o rapaz abra a boca, o pai se lança ao seu pescoço e o beija. Só depois de ganhar um beijo do pai é que ele fala. E o filho lhe diz: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho. E ele não fala me faz um dos teus trabalhadores, mudou completamente a perspectiva, agora ele viu o pai que tem. Agora ele viu que este pai está esperando de braços abertos a volta do filho.

Deus está esperando de braços abertos a volta do pecador. Não importa por onde ele andou, não importa o que ele fez, não importa que mal ele causou a si mesmo ou a outras pessoas, não importa. Deus está esperando de braços abertos assim como foi com este filho aqui. Nós nunca saberemos se ele falaria ou não se ele estava arrependido. Aquele beijo significou muito, na realidade, o que desperta em qualquer pessoa o desejo de dizer para Deus: Pai, eu pequei, é o beijo. É quando ele é tocado por Deus. Deus toca nesse coração e gera nesse coração um arrependimento. Uma pessoa pode até achar que um dia ele foi a Deus, se arrependeu dos seus pecados, tomou uma decisão firme, falou com Deus, mas não foi. Deus correu ao seu encontro, Deus beijou você. Deus abraçou você um dia e certamente Ele quer mostrar o Seu amor, Ele quer mostrar a Sua compaixão.

Esse rapaz não tomou um banho antes, não passou a roupa, não foi primeiro tomar um banho de loja, se arrumar, ficar bonitinho, pôr um perfume. Não! Ele foi abraçado do jeito que ele estava, sujo, em frangalhos, em trapos, imundo, fedido; foi assim que o pai o abraçou. Deus está esperando pelas pessoas do jeito que elas estão. Ele não está esperando que uma pessoa mude, jamais esse pai poderia falar assim: Está certo, filho, você quer vir aqui para casa mas, antes, dê um jeito na sua vida, recupere tudo que você fez de errado, trabalhe bastante, faça por merecer, ajuda-te e eu te ajudarei. É uma frase que ouvimos falar como se fosse da Bíblia, mas não é da Bíblia. Ajuda-te que eu te ajudarei. Não, não dá, não tem como!  Como uma pessoa vai se ajudar? Ele está perdido, com fome, está doente, cansado, ele não tem como se ajudar. Será que é este também o seu estado?

Deus permite, às vezes, que cheguemos ao fundo do poço; Ele permite que a gente descubra que não tem mais recursos, que não tem mais de onde tirar forças para continuar vivendo e, é nesse momento que temos um encontro com Deus. É nesse momento que estamos prontos para sermos abraçados por Deus. Antes, talvez não. É mais ou menos como uma pessoa que está se afogando.

O salvavidas não vai abraçar a pessoa que está se debatendo na água. O salvavidas fica nadando em volta esperando ver algum sinal de rendição, de cansaço, para que ele possa chegar e dar uma gravata, um abraço forte para tirar aquela pessoa daquela situação. Mas, se a pessoa estiver lutando, estiver no auge da sua energia, o salvavidas não vai perto porque ela pode grudar no salvavidas e podem afundar juntos. Ele espera a pessoa se render, a pessoa se largar, se cansar, se considerar perdida, porque ele é salvavidas. Caso contrário, ele não seria salvavidas, seria apenas um assessor de salvação ou algo assim. E Deus não está esperando pessoas que se salvem, pessoas que se melhorem, pessoas que se aprimorem, e aí entram as religiões. Qualquer religião diria a este filho: vai se arrumar, vai reencarnar trezentas vezes, vai dar bastante esmola, se não tem para dar, trabalhe para ganhar e fazer o bem, ajude o seu próximo, depois você vem aqui. Deus não faz isto!

E quando esse rapaz chega, é o pai quem o veste, é o pai quem coloca um anel no seu dedo como sinal de comunhão agora com Deus, é o pai quem coloca a sandália nos seus pés mostrando para ele como será o caminhar dele. É o pai que faz tudo e o pai não vai colocá-lo como empregado, ele é filho. Muito pelo contrário, há uma festa, há regozijo. Não há lembrança das coisas que ele fez. O pai não diz: está bom, dá uma lista agora das coisas que você fez de errado, vamos discutir essas coisas. Não, ele voltou, ele está em casa agora, ele está salvo. E o pai diz a seus servos: trazei depressa o melhor vestido e vesti-lho, ponde um anel em sua mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. Aqui começa o problema. De quem era esse bezerro?

Esse bezerro era do filho mais velho, pois o filho mais novo já tinha queimado a parte dele e, o que sobrou, é o que ficará para o filho mais velho quando o pai morrer. Portanto, esse bezerro sai da porção do filho mais velho e, obviamente, ele vira uma fera quando fica sabendo disto. Ele volta para casa e se recusa a entrar em casa. É interessante o contraste aqui. Um filho volta para casa, o pai sai correndo para abraçá-lo porque ele quer entrar em casa, ele quer voltar a ter comunhão com o pai, ele quer voltar a viver junto com o pai. Ele voltou não pelos bens, pois a parte dele ele já havia pedido antecipadamente, ele voltou por causa do pai. E o outro filho se recusa a entrar.  "E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele."

Um veio querendo entrar, o outro chega e não quer entrar. Um, o pai saiu para abraçar e receber, e o outro o pai sai para insistir com ele, para dizer que ele não pode fazer aquilo. Para entendermos um pouco mais da crise que se tornou aqui vamos falar um pouquinho de como eram as coisas nessa época; um bezerro era muito dinheiro. Eles não comiam carne todos os dias. Um palestino hoje também não come; eles comiam muita coalhada, muito leite, muitas ervas, grãos, pão de trigo, cevada, centeio. A alimentação na Palestina era baseada, praticamente, em vegetais, em cereais e em leite, como é até hoje. A carne é luxo porque a carne é cara, você criar um boi é caro. Não tinha frigorífico, quando você matava um boi você tinha que comer esse boi inteiro, não dava para guardar, e eles faziam isto só em situações de festa muito grande, quando alguém casava, quando tinha alguma celebração importante e convidavam as pessoas da aldeia, algo assim. Então, é realmente um grande feito matar esse bezerro.

Ele se indignou e depois ele diz ao pai, e é por isto que ele é o segundo filho pródigo: "Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado." Ele estava com o pai porque ele queria gastar tudo também com os amigos dele quando ele herdasse. Na realidade, os dois são pródigos, os dois são gastadores. O primeiro quer gastar tudo saindo para viver a própria vida, o segundo quer gastar tudo ganhando por merecer, ficando com o pai até o momento que ele pudesse ter tudo aquilo para ele gastar com seus amigos. Quando eu falei que esta parábola muda a concepção de perdido, de pecado e de perdido é porque o primeiro filho estava perdido, ele tinha saído a pecar de costas para o pai, ele não quis o pai e saiu para desperdiçar tudo e fazer a sua própria vontade. O segundo filho estava igualmente perdido porque ele ficou em casa, obedecendo o mandamento do pai, para depois pegar tudo aquilo e gastar com seus amigos.

Nós encontramos ao longo dos evangelhos, dois tipos de pessoas no mundo: a pessoa religiosa, em todos os momentos vão aparecer estas pessoas religiosas nos evangelhos e Cristo vai ter sempre um conflito com elas porque são pessoas que fazem as coisas para merecer alguma coisa de Deus. Elas seguem as leis, seguem os mandamentos, fazem tudo direitinho e transformam Deus em um devedor, que é o que o filho mais velho está fazendo. Ele está dizendo: Pai, você me deve essa porque fiz tudo direito, nunca saí da sua casa, sempre guardei seus  mandamentos, sempre obedeci, eu mereço. Eu merecia o cabrito, mas nunca o tive, eu mereço o bezerro, esse bezerro era meu. Uma pessoa que tenta agradar a Deus para receber alguma coisa em troca, uma pessoa que segue a Palavra de Deus, segue os mandamentos de Deus, segue uma religião, faz tudo direito, com a motivação, o interesse de que Deus lhe dê em troca a salvação, é esse filho aqui.

Um é aquele que sai para gastar tudo, quer seguir o seu próprio nariz e, o outro, é aquele que fica mas quer também seguir o seu próprio nariz, na verdade, ele quer transformar Deus em devedor. Alguém que pensa que vai ser salvo por ser bom é tão ruim quanto aquele que quer ser mau por vontade própria. Há dois tipos de pessoas perdidas no mundo: os bons e os maus. É estranho falar uma coisa dessa, mas esse é o bom filho, o que ficou em casa e, o outro é o mau filho, o que saiu de casa e, os dois, estão igualmente perdidos porque os dois quiseram se aproveitar do pai. Os dois quiseram explorar o pai, um de um jeito e o outro de outro, mas, na verdade, os dois quiseram fazer do pai um objeto de consumo, o pai é só um meio de terem o que eles podiam receber.

Uma pessoa que vai à igreja, que lê a Bíblia, que faz caridade, que segue os mandamentos de Deus pensando que com isto ela vai poder receber de Deus a vida eterna, está usando a Deus. Ela está explorando a Deus. Vejam então que existe um conceito totalmente diferente no cristianismo, Deus é um pai. Um pai de amor, e esse é o perfil desse pai aqui da parábola.


Existe um outro conceito também, completamente diferente do que se encontra nas religiões; perdido não é aquele que vive uma vida má, perniciosa, como uma prostituta ou um ladrão. Perdido é aquele que vive uma vida religiosa. Igualmente. Os dois são perdidos. E agora, como faremos? Como resolver esta questão? Se eu for mau vou paro o inferno e, se eu for bom, eu também vou para o inferno. Se esse filho mais velho fosse realmente obediente ao pai, no sentido de quem amasse seu irmão o que ele faria num momento desse? Pai, eu vou atrás do meu irmão. Eu vou atrás do seu filho mais novo, vou procurá-lo e estou disposto a gastar tudo, a minha parte da herança; vou gastar tudo para trazê-lo de volta para casa porque o amo. Infelizmente esse não é o perfil.

Mas há um terceiro filho que você encontra na Bíblia, que é o único filho de Deus, aquele único gerado por Deus, que é Jesus. Deus se fez homem na pessoa de Seu filho Jesus e veio a este mundo. Este Filho tem um comportamento totalmente diferente desses dois filhos aqui. Primeiro, Ele estava no céu junto com o Seu Pai, Deus Pai, e Ele é Deus, Deus Filho. Ele tinha tudo e, amou tanto os perdidos como eu, como você, que abriu mão de tudo para vir aqui nos salvar, nos buscar, nos resgatar. Ele fez o possível e o impossível. Como não havia mais nada a ser feito, como não havia nenhum argumento que pudesse resgatar o homem, tirá-lo da sua condição de perdido, de inimigo de Deus, desobediente, destinado ao juízo eterno, Ele deu a Sua vida.

Não há bem mais precioso que alguém possa dar do que a Sua própria vida! Ele gastou, por assim dizer, aquilo que Ele tinha de mais precioso. Ele deu a sua própria vida para salvar o pecador. Porque na cruz, é importante entender, Cristo não foi um mártir, não foi um Tiradentes, uma versão antiga do Tiradentes que foi lá sofrer por uma causa, morrer por uma causa para dar exemplo para que as pessoas também morram por uma causa importante, nada disso. Ele foi morrer como substituto do pecador porque, no momento em que o homem se afastou de Deus, no momento em que o homem pecou contra Deus, ele merecia uma condenação porque é questão da transgressão e do juízo. Na sociedade nós vemos isto,  uma pessoa assalta um banco, uma pessoa mata outra pessoa, existe uma justiça para isto e ele é submetido à justiça dos homens, é preso, é condenado, em alguns países dependendo da gravidade, a pena é de morte, ele tem que morrer.

E não é diferente nas coisas de Deus. O homem tinha que morrer porque o homem é pecador, quando falo homem, é cada um de nós, é o ser humano. Nós merecíamos a pena por causa do pecado, mas Deus nos amou. Deus olhou para nós, viu o nosso estado perdido, arruinado e falou vou salvar! Este Filho obediente, este Filho perfeito de Deus, veio até aqui, foi até à cruz, Se deixou pregar na cruz e, naquelas três horas de trevas na cruz, Ele recebeu sobre o Seu corpo os pecados daqueles que crêem Nele. Ele recebeu o juízo de Deus, Ele foi castigado ali como substituto. Uma pessoa que hoje crê em Jesus como seu Salvador tem os seus pecados completamente perdoados por Deus. É como se você tivesse sido condenado à morte, está esperando a sua execução e vem uma pessoa e fala: olha, eu consegui com o juiz tomar o seu lugar. Eu confessei o crime no seu lugar por procuração, por substituição. E digamos que você saísse e essa pessoa fosse e morresse no seu lugar. A pena foi cumprida.

Ninguém pode condenar à morte uma pessoa duas vezes, é impossível, pois uma pessoa que já morreu, morreu. E quando uma pessoa crê em Cristo ela é dada por morta. É dada como alguém que já cumpriu a pena e Deus pode aceitar e receber essa pessoa agora. Essa história dos dois filhos nos mostra uma coisa importantíssima que é a compaixão de Deus para conosco. Não há outra forma de se chegar a Deus. As religiões vão querer que você seja o filho mais novo, arrependido. Ah, sofreu agora volte para casa arrependido e então vai receber. As religiões vão querer que você, talvez, seja o filho mais velho, fica em casa agora, trabalhe direitinho e, quem sabe um dia, você vai merecer receber de Deus, o seu pai, a salvação.

O Cristianismo verdadeiro coloca os dois na mesma condição: perdidos, querendo fazer uso de Deus. Agora pergunto: uma vez esse filho em casa, qual seria o relacionamento dele com o pai, desse que voltou para o pai, desse que foi salvo pelo pai? Como ele veria o pai daqui para a frente? Ele amaria o pai porque ele foi amado! Ele não veria mais o pai como alguém que tem uma herança para dar, ele olharia o pai agora como alguém que gastou tudo para salvá-lo. Como alguém que tinha o que havia de mais precioso e, Deus Pai, entregou, realmente, o que tinha de mais precioso: o Seu Filho, para nos salvar.

Qual a sua resposta a isto? O que você responderia? Que filho é você? Você é o filho que está procurando resolver a vida do seu jeito, gastar as coisas, aproveitar bem a vida, seguir a sua vontade mas, naquele momento em que se sente vazio você precisa achar um caminho de volta ou você é o filho religioso, que tenta fazer tudo direitinho para assim transformar o pai no seu devedor, poder cobrar dele? Falar assim: já fiz tudo, agora me dá a minha parte. Que tipo de filho é você? Qual desses filhos aqui na parábola é você?

Aquele que realmente crê no Senhor Jesus Cristo como Salvador passa a ter um relacionamento diferente com Deus. Não mais olha para Deus como alguém que quer receber alguma coisa Dele. É claro que Deus é seu pai a partir do momento que ele crê no Salvador, mas ele não olha mais para Deus como alguém que vai fazer alguma coisa para Deus para merecer o favor Dele. Não, eu já recebi tudo o que Deus podia me dar: salvação perfeita e eterna da minha alma. Agora se eu fizer alguma coisa para Deus será para  expressar minha gratidão, será uma expressão de louvor, uma expressão de agradecimento pelo o que Ele já fez.

Não tente salvar a si mesmo fazendo alguma coisa para Deus. Aceite a salvação que Deus ! Por graça somente, por favor imerecido, você não merece e nem eu mereço. Aceite para passar a ter esse relacionamento com Deus de alguém que pode agora chamar a Deus de Pai. Algo que nenhum judeu no Antigo Testamento tinha coragem de chamar. E quando o Senhor Jesus esteve na terra Ele revelou essa nova forma de relacionamento com Deus, chamá-lo de Pai. Em alguns momentos Ele chamou a Deus de Papai, no sentido mais íntimo da palavra.

É esse Deus que está chamando, é esse Deus que está abraçando, é esse Deus que está beijando, é esse Deus que convida e isto é o evangelho. O evangelho não é uma lista de regras, o evangelho é o amor de Deus expresso de tal maneira que deu o Seu próprio Filho, Seu único Filho para morrer por nós e nos salvar.